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Um Romance Marítimo - Parte I

Foi o primeiro que eu vi assim que embarquei.

Esse começo de romance tá muito parecido com o último. Vamos virar o disco.

Santos, 08 de janeiro. Me chamou a atenção. Estava trabalhando, mas não estava me atendendo.
Não fez questão de ser simpático, ajudou o cara que me atendia, mas nem me olhou.

Não saiu da minha cabeça. O vi a noite, trabalhando em outro bar, mas não me atendia, porque eu estava do outro lado. Não saiu da minha cabeça.


Rio de Janeiro, 09 de janeiro. Já era hora do almoço, ele estava trabalhando no restaurante que fui almoçar. Olhei seu name tag, era um nome estranho e tinha a bandeira da Romênia... Bateu uma insegurança, porque eu sei como brasileiro funciona, mas e os romenos?

Fiz questão de levantar e pedir minha bebida pra ele. "Uma Sprite e uma Coca". Ele não disse nada, não ouvi sua voz... Na hora de me servir, continuou em silêncio, somente um "Com licença" bem baixinho. Não saiu da minha cabeça.

Nessa noite tivemos a festa dos anos 60, cheguei no bar, avistei e fiz questão de ir para o lado que ele estava atendendo. Eu pedi "Pink Lady" e ele repetiu "Pink Lady". Eu tinha esperança de ele ser como um brasileiro, puxar conversa comigo, me tirar dali. Ele trouxe meu drink e eu brinquei "Posso assinar um X?" De onde eu tirei a idéia de fazer uma brincadeira tão sem graça? E se ele não entendesse nada, e minha cara de tonta? Ele entendeu e respondeu, meio seco, "Você reconhecendo depois sua assinatura".

Minha cabeça começou a girar. Ficou tudo confuso demais. Se ele era brasileiro, porque estava com a tag de um romeno? Isso é proibido. Comecei a gostar mais.

A história, que até então não era história nenhuma, começou a tomar uma proporção tão grande, que até minha mãe começou a reparar e "torcer" por alguma coisa, que até agora nem eu sei o que é. Minha mãe disse que ele me olhava, eu sou orgulhosa, só olhava quando ele estava de costas. Pedi mais uma cerveja, perguntou para minha mãe "dois copos?", nesse momento ficou claro: ele era brasileiro. Ponto pra mim, brasileiros são sempre mais "receptivos". Ele entregou a cerveja, minha mãe perguntou de onde ele era: Paraná.

Fazia frio naquela noite.

Por volta de uma hora da manhã, a festa mudou de bar. Onde a festa vai, eu vou atrás. Ele também foi, mas estava atendendo do lado oposto ao que eu estava. Eu tinha decidido que não mudaria meu foco por causa de um homem. Fiquei do meu lado, sabendo que ele não me atenderia.

-Não olha agora, mas tem alguém atrás de você.

Era ele, lindo, loiro e de moicano, com uma bandeja passando atrás de mim. Pés no chão, esse é o trabalho dele, ser garçom e estar em qualquer lugar do bar. Wrong. Cada garçom tem que ficar na sua área. Durante todo o tempo que ele esteve trabalhando, reparei que dava uma passadinha perto de nós.

Era 2:00 am, eu estava numa espécie de camarote, tinha uma escadinha para chegar nesse ponto. Eu queria uma cerveja, confesso já estava bem tontinha, vi ele passando lá embaixo e me olhando, levantei a mão. Nessa hora percebi que alguma coisa já estava diferente, ao invés de vir até mim, como um garçom normal, ele me fez tchau. Oi? Chamei ele e pedi uma cerveja.

-Está calor aqui né?
-Realmente, bem quente....
-Mas você tem uma jacuzzi na proa do navio que cairia bem nessas horas....
-Como você sabe??
-Ouvi dizer.
-...
-Eu iria adorar conhecer a proa do navio!
-Mas lá é só pra funcionário.....
-Sempre tem um jeitinho!
-Eu te acompanho!

Nessa noite ele não me levou até a bendita proa do navio, disse que eu seria a última pessoa a ser atendida por ele, que tinha uma festa para ir e que já estava atrasado. Não saiu da minha cabeça.

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